Lenda do
Saci-Pererê da Fazenda Rio Grande
O
Saci-Pererê é uma figura mitológica do folclore brasileiro. Porém, não se sabe,
exatamente, como surgiu a figura dele. Pois, em diversos relatos, há vestígios
das seguintes culturas: africana, européia e indígena.
Deixo abaixo
a versão da origem do Saci, que escutei quando visitei a cidade de Fazenda Rio
Grande, no Paraná:
No século
dezenove, no período da escravidão, havia um menino negro muito sapeca chamado
Toinho, que fazia travessuras como: trançar as crinas dos cavalos nas noites
escuras, roubar doces da cozinha na casa grande, afanar fumo para seu cachimbo,
etc.
Um certo
dia, Toinho resolveu afanar um doce da copa, na casa grande. Quando, de
repente, o capataz flagrou o pobre, que saiu correndo. Mas, o homem correu atrás
do garoto, alcançou o desgraçado, que deu uma resposta debochada:
“- Capataz fraco, branquelo e magrelo
De ficar no tronco, não me pélo!”
Assim, o
capataz, tomado pelo ódio, levou o garoto para o mato e cortou uma de suas
pernas. O menino morreu e foi para o céu. Mas, São Pedro disse-lhe:
- Poxa, eu
até poderia deixa-lo entrar no Paraíso. Porém, o problema é que você não foi
batizado e, aqui ,pagão não entra.
Desta
maneira, Toinho foi para o Inferno e o diabo explicou-lhe:
- Não posso
aceitar você aqui porque seus pecados foram somente as travessuras infantis.
Acho que você deve voltar para o seu corpo, ou tentar uma vaga no purgatório. O
problema é que eles estão em reforma lá.
Enquanto o
garoto conversava com Satanás, um pajé que estava caminhando pela floresta viu
seu corpo estendido pelo mato. Então, com a magia dos xamãs, o feiticeiro
realizou um ritual para trazer o menino de volta à vida.
De repente,
o índio notou que o garoto tossiu e, de repente, ele abriu os olhos,
levantou-se com uma perna só e começou a pular rapidamente. Como um raio, o
menino disse:
- Poxa, não
estou no purgatório. Pois, esta é a mesma floresta, onde o capataz arrancou a
minha perna.
- Sinto que
por causa da minha visita ao inferno, entrou muita poeira das fogueiras nos
meus olhos e eles não param mais de mexer.
- Além disto,
há algo estranho:
- Estou me
sentindo ágil e saltitante mesmo com apenas uma perna.
Desta
maneira , o pajé resolveu levar Toinho para a tribo. Assim, todos os índios
ficaram assustados com a habilidade que o menino tinha de pular com uma perna
só.
De repente,
os nativos começaram a exclamar a palavra:
- Saci-Pererê!
Deste jeito
Toinho recebeu este apelido pelos indígenas. Pois, Saci significa olho doente
que se mexe sem parar e Perere quer dizer saltitante, tudo isto, em
tupi-guarani.
Mas, o
Saci-Pererê não se contentou em viver só na tribo e logo partiu para as
fazendas. Num sítio, ele viu uma senhora costurando toucas. Aproveitando-se da
distração da velhinha, o menino entrou na cozinha para roubar doces.
O moleque
estava comendo uma compota, quando de repente, ele escutou a mulher falar, por
isto derrubou o vidro no chão. Aquela senhora exclamou:
- Pobre menino!
- Pois é
careca e deve sentir frio na cabeça!
O Saci ficou
paralisado tamanho o susto.
Mesmo,
assim, a velhinha continuou com um gorro vermelho na mão:
- Por favor,
aceite esta touquinha carmim como um presente.
Desta
maneira, a mulher colocou o gorro na cabeça do menino, que tentou arrancá-la,
mas não conseguiu.
Assim, a
senhora explicou:
- Não tente
arrancá-la, pois esta touca é mágica. Eu sou uma bruxa e faço gorros eternos
com o objetivo de proteger todas as crianças que um dia já foram injustiçadas.
Após escutar
estas palavras o Saci saiu pulando e passou a ser visto nas fazendas locais
realizando as seguintes travessuras: escondendo objetos, trançando crinas de
cavalos, roubando fumo para seu cachimbo, etc.
Reza a lenda
que este Saci-Perere, até hoje, freqüenta a cidade de Fazendo Rio Grande, no
Paraná e já foi visto nos bailes de um famoso posto da cidade.
Luciana do
Rocio Mallon
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