O Dia Em Que
Me Chamaram de Criança Veada
(Foto:
Modelo: Luciana do Rocio Mallon, em 1979, no Passeio Público)
Um dos
quadros polêmicos da exposição do Queermuseu denomina-se Criança Veada. Ao ler
este nome logo me lembrei de quando me chamaram disto.
No ano de 1979,
eu tinha cinco anos de idade e morava num conjunto habitacional de Curitiba
chamado Jardim Centauro. Lá, a vizinha de trás era uma senhora com problemas
auditivos que tinha um cachorro dálmata amarrado no quintal.
Naquela
época um dos meus desenhos favoritos era o Bambi e eu gostava de correr como
esta personagem no meu jardim.
Numa tarde
de verão, minha vó paterna, que fumava muito, veio passar uns dias na minha
casa. Como eu não gostava do cheiro de cigarro, roubava as cartelas da bolsa
dela e jogava estes objetos para o cachorro desta vizinha, com problemas
auditivos, comer. Já que aquele cão saboreava cigarros e ficava muito
satisfeito com minha atitude.
Mas, de
repete, a idosa com problemas auditivos me pegou jogando as cartelas para seu
animal de estimação e me xingou em voz alta:
- Criança veada!
Deste jeito
corri e pensei:
- Como posso
ser uma criança veada, se sou menina e estou de saia?
- A vizinha,
que eu saiba, possui problemas visuais e não auditivos.
- Será que
veada é a esposa do Bambi?
- Será que
ela me viu imitando a personagem da Disney?
Ao entrar na
sala minha vó perguntou:
- Luciana, por
que você está com esta cara?
Respondi:
- Porque me
chamaram de criança veada e estou vestida como menina.
Assim a
idosa me explicou:
- Lá na
minha terra criança veada é sinônimo de menina travessa.
Deste jeito
gritei em voz alta:
- Oba !
- Sou
criança veada !
Porém hoje
eu não gostaria de ser aquela obra do Queermuseu.
Luciana do
Rocio Mallon
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