quarta-feira, 31 de maio de 2017

Marcas Nos Ombros, Por Usar Sutiã Apertado, Que Viraram Lagoas Para as Lágrimas dos Anjos

Marcas Nos Ombros, Por Usar Sutiã Apertado, Que Viraram Lagoas Para as Lágrimas dos Anjos
Meus seios começaram a crescer com dez anos de idade, situação que me causava certo desconforto. Pois a cada dia que passava eu tinha dificuldade para correr e pular, atividades de que eu gostava muito. Por isto, logo minha mãe tratou de comprar sutiãs para mim. Mas ela mexia na peça íntima e dizia:
- Você precisa usar sutiã apertado!
- Senão seus seios ficarão caídos!
- Não tire a peça nem para dormir!
- Pois, revistarei à noite.
No começo foi difícil usar esta peça íntima bem apertada. Na primeira noite, soltei o sutiã. Porém, pela madrugada, minha mãe fez a revista e pediu para que eu colocasse a peça novamente. Como todas as noites eram assim, me acostumei. Logo, lembrei-me que quando eu tinha cinco anos de idade, assisti a um filme onde mulheres queimavam sutiãs numa fogueira. Então, ao usar o primeiro sutiã, refleti:
- Agora, entendi o porquê as moças jogaram sutiãs naquele filme.
O tempo passou e com treze anos de idade, notei que meus ombros estavam afundando, pouco a pouco, por causa do sutiã apertado. Por isto eu fugia de peças decotadas, como tops, regatas e o tão famoso tomara-que-caia. Afinal não queria que ninguém descobrisse aqueles buracos nos meus ombros.
Com o passar dos anos, além do sutiã apertado, meus ombros carregaram mais pesos: a mochila cheia de livros da escola e cursos; a depressão e outros problemas que jovens tem.
Sempre achei meu corpo feio e isto foi um dos motivos que eu evitava me aproximar dos homens. Aos vinte e sete anos, arrumei meu primeiro namorado e costumávamos nos ver num curso de computação que era oferecido gratuitamente. Numa tarde de outono, eu estava com uma blusa do modelo chamado canoa. Assim ele colocou a mão por baixo de um dos meus ombros, afastou a alça do meu sutiã e viu a marca funda do meu ombro. Deste jeito fiquei com vergonha e disse:
- Desculpe, meus ombros têm marcas fundas de tanto eu usar peças apertadas. Por isto eles parecem buracos de asfalto, ou, até mesmo crateras.
Desta maneira o meu amado falou:
- Lembre-se que todo o buraco vira uma lagoa mágica quando chove. Atraindo, deste jeito, seres da natureza como: borboletas, libélulas, pirilampos, abelhas e pássaros.
Após estas singelas palavras, o moço derramou uma lágrima, que caiu em um dos meus ombros, que estavam desnudos pelos seus dedos curiosos. Naquele instante, uma magia aconteceu: fechei os olhos e descobri que o buraco do meu ombro tinha se transformado num lago, dentro da minha alma, que estava tão seca antes deste acontecimento.
Nunca mais me esqueci deste dia. A lição que aprendi foi que, ás vezes, somos obrigados a empinar o peito para enfrentar problemas que nos fazem amadurecer. Porém os mecanismos para isto formam crateras e buracos que servirão para abastecer águas puras e cristalinas, que caem dos anjos do céu, quando o espírito sentir sede.
Luciana do Rocio Mallon



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