Marcas Nos
Ombros, Por Usar Sutiã Apertado, Que Viraram Lagoas Para as Lágrimas dos Anjos
Meus seios
começaram a crescer com dez anos de idade, situação que me causava certo
desconforto. Pois a cada dia que passava eu tinha dificuldade para correr e
pular, atividades de que eu gostava muito. Por isto, logo minha mãe tratou de
comprar sutiãs para mim. Mas ela mexia na peça íntima e dizia:
- Você
precisa usar sutiã apertado!
- Senão seus
seios ficarão caídos!
- Não tire a
peça nem para dormir!
- Pois,
revistarei à noite.
No começo
foi difícil usar esta peça íntima bem apertada. Na primeira noite, soltei o
sutiã. Porém, pela madrugada, minha mãe fez a revista e pediu para que eu
colocasse a peça novamente. Como todas as noites eram assim, me acostumei. Logo,
lembrei-me que quando eu tinha cinco anos de idade, assisti a um filme onde
mulheres queimavam sutiãs numa fogueira. Então, ao usar o primeiro sutiã,
refleti:
- Agora,
entendi o porquê as moças jogaram sutiãs naquele filme.
O tempo
passou e com treze anos de idade, notei que meus ombros estavam afundando,
pouco a pouco, por causa do sutiã apertado. Por isto eu fugia de peças
decotadas, como tops, regatas e o tão famoso tomara-que-caia. Afinal não queria
que ninguém descobrisse aqueles buracos nos meus ombros.
Com o passar
dos anos, além do sutiã apertado, meus ombros carregaram mais pesos: a mochila
cheia de livros da escola e cursos; a depressão e outros problemas que jovens
tem.
Sempre achei
meu corpo feio e isto foi um dos motivos que eu evitava me aproximar dos
homens. Aos vinte e sete anos, arrumei meu primeiro namorado e costumávamos nos
ver num curso de computação que era oferecido gratuitamente. Numa tarde de outono,
eu estava com uma blusa do modelo chamado canoa. Assim ele colocou a mão por
baixo de um dos meus ombros, afastou a alça do meu sutiã e viu a marca funda do
meu ombro. Deste jeito fiquei com vergonha e disse:
- Desculpe,
meus ombros têm marcas fundas de tanto eu usar peças apertadas. Por isto eles
parecem buracos de asfalto, ou, até mesmo crateras.
Desta
maneira o meu amado falou:
- Lembre-se
que todo o buraco vira uma lagoa mágica quando chove. Atraindo, deste jeito,
seres da natureza como: borboletas, libélulas, pirilampos, abelhas e pássaros.
Após estas
singelas palavras, o moço derramou uma lágrima, que caiu em um dos meus ombros,
que estavam desnudos pelos seus dedos curiosos. Naquele instante, uma magia
aconteceu: fechei os olhos e descobri que o buraco do meu ombro tinha se
transformado num lago, dentro da minha alma, que estava tão seca antes deste acontecimento.
Nunca mais
me esqueci deste dia. A lição que aprendi foi que, ás vezes, somos obrigados a
empinar o peito para enfrentar problemas que nos fazem amadurecer. Porém os
mecanismos para isto formam crateras e buracos que servirão para abastecer
águas puras e cristalinas, que caem dos anjos do céu, quando o espírito sentir
sede.
Luciana do
Rocio Mallon
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