Antes Me
Chamavam de Flor e Doce, Então Eu Atraia Abelhas e Borboletas, Mas Hoje Me
Xingam de Coxinha e Mortadela, Por Isto Só Atraio Carnívoros
Reza a lenda
que quando as pessoas nos elogiam de determinados componentes da natureza,
exalamos um pouco do espírito destes elementos atraindo seus admiradores e
predadores naturais.
Nos anos 90,
eu era uma vendedora tímida e simpática de lojas de roupas. Além de participar
de saraus, de artistas idosos, fazendo repentes poéticos e inocentes. Por isto,
era comum escutar elogios como:
- Você é uma
flor!
- Você é um
doce!
Eu lembro-me
que, naquela época, era comum ver abelhas, borboletas e joaninhas perto de mim.
Numa tarde de primavera, após uma cliente ter me chamado de flor, uma borboleta
posou na minha blusa. Deste jeito, outra vendedora comentou:
- De tanto
as freguesas chamarem você de flor, as borboletas procuram a sua pessoa.
O tempo
passou, precisei deixar o meu serviço no comércio e abandonei os saraus
artísticos. Ás vezes, penso que algumas criaturas arrancaram as pétalas, da
flor que eu era, e roubaram todo o meu mel. Porém por volta de 2010, comecei a
escrever, voluntariamente, em blogs. De vez em quando surgiam assuntos sobre
política. Eu sempre tentava fugir deste vespeiro. Mas havia vezes que eu não
conseguia. Por isto algumas pessoas começaram a me chamar de:
- Coxinha!
- Mortadela!
A partir
daquele ano notei que cachorros e gatos passaram a me seguir na rua. Para mim,
isto sempre foi uma honra, porque gosto de fazer carinho nos bichinhos. O
problema é que alguns destes animais tentaram me morder, como se eu fosse uma
refeição.
Será que,
realmente, fiquei com cheiro de coxinha e mortadela de tanto me chamarem disto?
Estou começando
a acreditar que as palavras têm magia e vida igual o Misticismo tanto fala.
Pois, hoje, eu não pularia num rio com medo de que as piranhas surgissem, das
profundezas, e me devorassem. Além disto, sempre me lembro da Lenda do Bispo
Sardinha que foi devorado por canibais e tubarões por causa do seu nome.
No momento,
procuro voltar, pouco a pouco, aos saraus poéticos com o objetivo de recuperar
meu mel e me tornar, novamente, uma flor no olhar dos seres ao meu redor.
Afinal, já estou com saudades das borboletas, joaninhas e abelhas.
Luciana do
Rocio Mallon
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