terça-feira, 21 de maio de 2019

A Criança Que Eu Era Se Orgulharia do Adulto Que Sou?



Tema: A Criança Que Eu Era Se Orgulharia do Adulto Em Que Me Tornei?
Meu nome é Luciana do Rocio Mallon, tenho 45 anos, sou repentista, bailarina folclórica, pesquisadora de causos, escrevi os livros Lendas Curitibanas 1 e Lendas Curitbanas 2. Aceitei este desafio entre blogueiros de escrever um texto sobre o mesmo assunto. O tema escolhido foi:
“A criança que eu era se orgulharia do adulto em que me torne?”
Em 1979, quando eu tinha cinco anos, gostava de rimar palavras e amava assistir aos balés na TV. Por isto sonhava em ser bailarina. Porém minha família não tinha dinheiro para pagar aulas de Dança naquela época. Mesmo assim, eu ligava o rádio e bailava.
Em 1980, aos seis anos de idade, entrei na pré-escola e comecei a ser alfabetizada. Tanto a família quanto as professoras diziam:
- Só sobrevive neste mundo quem tem estudo.
- Se você quiser ser alguém na vida, precisa estudar bastante.
- Se você estudar, terá um emprego bom.
Assim, na escola, a professora costumava contar a Fábula da Cigarra e da Formiga, onde a formiga que trabalhava duro se deu bem e a cigarra que só cantava passou necessidades.
Outro conto infantil que a professora costumava contar era a Fábula do Coelho e da Tartaruga, onde os dois bichos apostavam uma corrida. Mas o coelho, certo da sua vitória, resolveu dormir na floresta. Enquanto a tartaruga, mesmo devagar, não desistiu da competição. No final o coelho dormiu demais e a tartaruga venceu a corrida.
A partir deste conto, comecei a pensar:
- Nossa!
- Se eu estudar, serei uma pessoa bem sucedida.
Assim eu passei a observar, nas novelas, as personagens que eram empresárias e executivas. Então um pensamento não quis deixar a minha cabeça:
- Vou me matar de estudar porque quero ser executiva.
O problema é que eu tinha muita dificuldade em Matemática. Por isto, mesmo criança, passava as madrugadas estudando.
O tempo passou, entrei no segundo grau e minha família me aconselhou a fazer o curso de Magistério. Nunca achei que tivesse vocação para dar aulas. Mesmo contrariada, acatei o conselho para evitar confusões com os parentes mais próximos.  
O problema é que, na mesma época, engordei rápido demais e passei a ter traços masculinizados. Desta maneira passei a sofrer bullying no colégio. Alguns colegas cantavam aquela musiquinha para mim:
- Maria Sapatão, sapatão, sapatão...
No dia do amigo secreto ganhei uma cueca com a palavra “sapatão” escrita em esmalte. Eu só via os estudantes rindo de mim. Este foi o pior dia da minha vida.
O tempo passou, chegou a vez do vestibular e minha família sugeriu que eu fizesse Letras. No fundo, eu queria fazer algum curso voltado ao comércio. Mas para evitar brigas acatei a sugestão novamente.
Depois da faculdade, resolvi trabalhar como vendedora no comércio, que era a função para a qual eu tinha a real vocação.
Para animar as clientes, eu sempre fazia meus repentes poéticos e assim conseguia freguesas fixas.
Como sempre fui pesquisadora de causos misteriosos, eu aproveitava as conversas, com estas clientes, para perguntar:
- A senhora conhece alguma lenda urbana?
- No seu bairro existe alguma estória misteriosa?
Elas contavam e eu anotava tudo.
Ainda na juventude precisei fazer curso de Informática Básica porque o mercado de trabalho exigiu. Nas aulas a professora descobriu que eu gostava de escrever e sugeriu para que eu fizesse um blog. Então, na época, consegui um espaço gratuito no site Usina de Letras para meus textos.
Até que vieram as redes sociais e passei a postar meus textos nelas. Desta maneira, o jornalista Hélio Puglielli, falou que a editora, Instituto Memória, de Anthony Leahy, publicava livros de graça. Assim ele sugeriu para que eu mandasse minhas lendas para este editor. Desta maneira, acatei a sugestão. Em 2013 nasceu o livro Lendas Curitibanas 1.
Neste mesmo período, consultei uma fisioterapeuta porque notei que eu tinha problemas motores que me atrapalhavam na atividade de vendedora, profissão que tanto amava. A fisioterapeuta recomendou fazer aulas de Dança Cigana ou Flamenca. Deste jeito, me matriculei em uma academia de Dança e senti resultados maravilhosos.
Porém durante este processo sofri de Depressão e Ansiedade. Desta maneira procurei uma psicóloga holística que aceitou me tratar gratuitamente. Eu contei sobre as minhas dificuldades em Matemática na escola, o bullying que sofri no colégio e o sonho em ser executiva que não consegui realizar na vida adulta.
Assim logo na segunda sessão, a terapeuta disse:
- Vamos usar uma técnica que foi batizada por alguns místicos de:
- A criança que eu era, teria orgulho do que me tornei?
- Agora, feche os olhos, relaxe e vá até os seus sete anos de idade. A professora está passando no quadro um problema de Matemática que você acha difícil.
- O que você sente?
- Quais são suas dificuldades?
Eu respondi com os olhos fechados:
- O problema é que a professora fantasia muito no enunciado. Ela coloca nomes diferentes nos personagens e as situações em que eles se encontram são bonitas, parecem conto-de-fada, mas estão longe da realidade. Sem falar que a professora explica rápido demais. Todo este conjunto torna a minha aprendizagem difícil.
Assim a terapeuta disse:
- Agora, você é uma menina de sete anos. Por isto, levante da carteira, chegue para a professora e diga:
“– Por favor, explique mais devagar.
- Tenha paciência e não fantasie tanto. Por favor, use problemas de acordo com a minha realidade. Em vez de falar em castelos, cite compras no mercado porque assim terei mais facilidade de aprender.
- Mesmo assim, professora, eu perdoo você!”
Desta maneira tentei repetir as palavras que a psicóloga sugeriu imaginando minha aparência de quando eu tinha sete anos.
Em outra sessão, a terapeuta resolveu trabalhar a questão do bullying, que sofri na adolescência. Assim ela me fez deitar no sofá, fechar os olhos e falou:
- Agora, você voltará aos quinze anos de idade na mesma sala de aula em que você sofreu bullying. Imagine você, com forma de adolescente, indo para frente da sala e falando assim para os colegas:
“ – Eu nunca quis fazer mal para ninguém. Pois eu só queria amizade. Por isto eu não merecia ser agredida. Mas, mesmo assim, eu perdoo vocês.”
Então eu repeti as palavras que a psicóloga sugeriu me imaginando com a idade para a qual ela me transportou.
Assim foram várias sessões onde eu me imaginava criança ou adolescente.
No final, a terapeuta disse:
- Você me disse que quando tinha cinco anos de idade sonhava em ser bailarina, mas sua família não tinha dinheiro para pagar as aulas. Mas que agora na idade adulta faz aulas de Dança e até se apresenta em alguns lugares.
Desta forma eu interrompi:
- Mas aos sete anos, eu queria ser executiva porque me falaram que as pessoas que se matavam de estudar tinham futuro brilhante. Porém eu me matei de estudar e não fui bem sucedida na vida. Enquanto minhas colegas que só queriam saber de baladas e de namoro, hoje, estão numa condição econômica melhor.
A terapeuta explicou:
- Isto aconteceu porque adultos exerceram uma influencia muito pesada na sua segunda infância. Porém, a principal essência do ser humano fica guardada na primeira infância. Portanto a sua verdadeira raiz está naquela menina de cinco anos, que gostava de rimar palavras e sonhava em ser bailarina.
Agora, imagine você adulta numa apresentação de Dança. Depois surge a sua pessoa, com cinco anos de idade, vendo a sua apresentação de balé. Neste mesmo instante duvido que a criança de cinco anos não se orgulhe da adulta que você se tornou agora.
Estas foram as palavras da terapeuta. Hoje quando fico triste, tento conversar com a minha criança interior. Assim peço desculpas pelas minhas falhas e tento sorrir, com ela, para comemorar tudo o que alcancei até aqui.
Dias atrás, antes de eu aceitar o desafio de escrever sobre este tema, notei que colocaram um envelope dentro da caixa de correio da minha casa. Quando abri vi, pela capa, que era um DVD do filme, “Crossroads – Amigas Para Sempre”, que eu ainda não conhecia. Assim coloquei a película no aparelho. Logo notei, por coincidência, que o enredo falava sobre sonhos de infância. Pois o filme trata de três meninas que escrevem seus sonhos, para a vida adulta dentro de uma caixa, e enterram o objeto no jardim. Assim elas combinam de desenterrar na noite de formatura. O interessante é que cada uma tem um sonho diferente: uma deseja casamento, outra sonha em ser bem sucedida na profissão e há uma que quer reencontrar a mãe biológica. Os anos se passam, as crianças crescem e cada uma tem um destino diferente. Assim elas voltam a se reencontrar e desenterram as caixas com os planos para a vida adulta. Porém as moças notam que seus desejos não se tornaram realidade como elas planejaram. Pois a jovem que sonhava com um casamento foi traída pelo noivo, a donzela que desejava dinheiro conseguiu uma vida humilde e a moça que gostaria de encontrar a mãe biológica se decepcionou com os adultos. Porém, no final, elas acabam montando uma banda de Rock, que não estavam nos planos destas jovens.
O filme passa a mensagem que nem sempre as coisas que sonhamos na infância são destinadas para nós. Mas, mesmo assim, a vida tem o poder de surpreender o ser humano.
As professoras, em sala de aula, deveriam estimular todo o pequeno aluno com este exercício: escrever os sonhos para a idade adulta no papel, colocar numa caixa e enterrar no jardim para reabrir somente na noite de formatura. Assim seria possível refletir com esta pergunta:
- A Criança Que Eu Era Se Orgulharia do Adulto Em Que Me Tornei?
Por falar em filmes, este roteiro que comentei acima me fez lembrar de duas obras que me marcaram com temas semelhantes: “Quero Ser Grande” e “De Repente Trinta”.
Em “Quero Ser Grande”, o personagem de Tom Hancks deseja ser adulto e tem seu pedido atendido. Então se transforma num operário de uma fábrica de brinquedos. O clímax deste filme foi quando Tom, ainda adulto, toca um piano gigante, com os pés, com outro rapaz num shopping. Anos atrás, teve um evento em Curitiba com um piano semelhante ao desta história. Assim toquei o piano gigante com os pés e a criança que existe, dentro de mim, ficou contente.
Em “De Repente 30” uma menina estudiosa se tranca no armário após sofrer bullying e dentro deste guarda-roupa deseja ter trinta anos. No dia seguinte o sonho dela se realiza. Ela se torna jornalista de uma revista feminina. Porém sua personalidade transforma-se em egoísta e competitiva. Assim ela não sente orgulho nenhum de sua vida adulta.
Espero que após o meu texto, que os leitores também façam a seguinte reflexão:
A Criança Que Eu Era Se Orgulharia do Adulto Em Que Me Tornei?
Luciana do Rocio Mallon








Confira também os textos dos outros participantes:
Essa blogagem coletiva foi organizada por meio da BlogaWeb - A rede social dos blogueiros e blogueiras.

4 comentários:

  1. Oi, Lu! Parabéns pelo texto!

    É interessante ver como você percorreu diversos caminhos, mas no final você se reencontrou com aquela criança que sonhava em dançar e escrever.

    Eu já assisti esses flmes que você mencionou, passavam na sessão da tarde. Crossroads tem uma música tema chamada "I'm not a girl, not yet a woman" que fala muito sobre crescer. Bem legal!

    Parabéns de novo!

    ______
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  2. Parabéns pelo texto e por ter chegado aonde chegou. Vc passou por dificuldades mais conseguiu.
    Abs

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  3. Oi Lu!

    Gente, que história! E é como dizem, o que tem que ser, será! A escrita e a dança tinham que estar com você e, apesar de tudo, acharam um caminho de volta. A Lu criança ficaria muito orgulhosa :)

    E poxa, eu super pensei nesses dois filmes enquanto eu escrevia esse texto! Porque são dois casos em que os personagens estão no corpo dos seus "eus" adultos, mas ainda pensam como crianças. E a obviedade de algumas questões mostram pra gente como complicamos demais as coisas.
    Um beijo!

    www.oinstavelmundodajuh.com.br

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  4. Belo texto e feliz pelo que se tornou. Desejo tudo de bom e continue em busca de seus sonhos.

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