sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O Dia Em Que Me Chamaram de Criança Veada

O Dia Em Que Me Chamaram de Criança Veada
(Foto: Modelo: Luciana do Rocio Mallon, em 1979, no Passeio Público)
Um dos quadros polêmicos da exposição do Queermuseu denomina-se Criança Veada. Ao ler este nome logo me lembrei de quando me chamaram disto.
No ano de 1979, eu tinha cinco anos de idade e morava num conjunto habitacional de Curitiba chamado Jardim Centauro. Lá, a vizinha de trás era uma senhora com problemas auditivos que tinha um cachorro dálmata amarrado no quintal.
Naquela época um dos meus desenhos favoritos era o Bambi e eu gostava de correr como esta personagem no meu jardim.
Numa tarde de verão, minha vó paterna, que fumava muito, veio passar uns dias na minha casa. Como eu não gostava do cheiro de cigarro, roubava as cartelas da bolsa dela e jogava estes objetos para o cachorro desta vizinha, com problemas auditivos, comer. Já que aquele cão saboreava cigarros e ficava muito satisfeito com minha atitude.
Mas, de repete, a idosa com problemas auditivos me pegou jogando as cartelas para seu animal de estimação e me xingou em voz alta:
- Criança veada!                                        
Deste jeito corri e pensei:
- Como posso ser uma criança veada, se sou menina e estou de saia?
- A vizinha, que eu saiba, possui problemas visuais e não auditivos.
- Será que veada é a esposa do Bambi?
- Será que ela me viu imitando a personagem da Disney?
Ao entrar na sala minha vó perguntou:
- Luciana, por que você está com esta cara?
Respondi:
- Porque me chamaram de criança veada e estou vestida como menina.
Assim a idosa me explicou:
- Lá na minha terra criança veada é sinônimo de menina travessa.
Deste jeito gritei em voz alta:
- Oba !
- Sou criança veada !
Porém hoje eu não gostaria de ser aquela obra do Queermuseu.
Luciana do Rocio Mallon





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