Lendas dos Palhaços-Sombras
de Curitiba
O palhaço-sombra
é uma espécie de artista que fica nas ruas famosas, de preferência das grandes
cidades, imitando os pedestres que passam com graciosidade.
Este tipo de
animador surgiu na Roma Antiga, mas teve seu ápice nas brincadeiras
renascentistas do Carnaval de Veneza. Já, na Idade Moderna, surgiu o costume de
um credor contratar um artista vestido de palhaço para seguir e imitar os
gestos, pelas ruas, da pessoa que estava lhe devendo. Pois esta seria uma
maneira do povo saber que o imitado era um mau pagador.
O curioso é
que a palavra sombra é usada, em algumas culturas, como o sinônimo da palavra
diabo. Por isto, é comum aquele ditado que diz: “todo mundo tem seu lado
sombra.” Reza a lenda que quando seguimos uma pessoa e a imitamos, por trás,
corremos o perigo de pegar as suas vibrações tanto positivas quanto negativas.
Em Curitiba,
nos anos 80, surgiu um palhaço-sombra na Rua Quinze de Novembro, a mais
movimentada do centro da cidade, que seguia e imitava qualquer pessoa que
surgisse naquela rua, com o objetivo de divertir os demais frequentadores. Este
artista usava maquiagem de circo e vestes variadas. Porém, uma das suas
fantasias era uma roupa de presidiário, toda listrada em preto e branco. Este
primeiro palhaço-sombra nunca fazia brincadeiras desrespeitosas com as pessoas.
Inclusive, tinha momentos que era muito gentil.
Nos anos 90,
este artista deu um pequeno intervalo. Então, dois animadores argentinos tomaram
o seu lugar. Estes atores portenhos tinham brincadeiras mais ousadas, como
exemplos: imitar pessoas com necessidades especiais, abraçar e beijar na boca
as mulheres na rua causando, ás vezes, um certo constrangimento.
Sempre fui
uma pessoa tímida e só dei o meu primeiro beijo aos 23 anos. Quando eu
completei 24 anos, costumava passar muito na Rua Quinze de Novembro para
procurar emprego nas firmas e lojas da região.
Um certo
dia, eu tinha feito um teste para um serviço e estava passando, distraidamente,
na Rua Quinze, quando de repente, escutei um apito. Como um raio, um palhaço me
pegou para dançar e exclamou:
- Vamos a bailar!
Então, este
artista começou a dançar comigo no meio da rua e, no final, acabou dando um
selinho na minha boca, o que me causou constrangimento. Logo pensei:
- Não
acredito que o meu segundo beijo foi com o palhaço-sombra argentino, na Rua
Quinze de Novembro, e na frente de dezenas de pessoas!
Então, lá
pelo ano 2000, os artistas argentinos deixaram a rua mais movimentada de
Curitiba e deram a vez para outro palhaço-sombra, que já era um senhor de idade.
Reza a lenda que este idoso faleceu no ano de 2004 e que, à noite, o seu
espírito começa a seguir e a imitar as criaturas que andam pela Rua Quinze. Por
isto, é comum os relatos de pessoas, que passam pela rua mais movimentada de
Curitiba e sentem que alguém está as seguindo. Porém, quando olham para trás
não enxergam ninguém. Mas, a sensação de que alguém está fungando nos seus
pescoços é nítida. Pois é, pelo jeito, este é mais um mistério de Curitiba.
Depois, em
2005, o primeiro palhaço-sombra, aquele mesmo que começou nos anos 80, voltou a
atuar permanecendo assim até outubro de 2013. Pois, dia 3 de novembro este
artista foi envolvido numa confusão. Segundo testemunhas, ele estava andando
por uma rua perto da sua casa, no bairro Parolin, quando, de repente, um
marginal conhecido na região passou a segui-lo com intenção de assaltá-lo. O
artista quando percebeu tudo, pegou uma faca e matou, em defesa própria, o bandido.
Após isto, autoridades afirmaram que o ator ficará preso somente por alguns
dias. Afinal, tudo indica que o artista agiu por legítima defesa. O curioso é
que, por coincidência, uma das fantasias que o animador usava para trabalhar,
na Rua Quinze de Novembro, era a de presidiário.
Moral do
causo: até os artistas de rua, estão sujeitos a sofrerem violências e
injustiças quando saem de casa, e, infelizmente isto não é apenas uma simples
Lenda Urbana.
Luciana do
Rocio Mallon
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