Lenda da Sanfoneira Fantasma da Vila das Torres
Nos anos setenta, na cidade de Curitiba no bairro Vila das Torres, morava uma adolescente chamada Doraci. Esta garota era diferente, pois era rústica, masculinizada, obesa, tinha cabelos curtíssimos e sempre vestia camisa xadrez, características que faziam as pessoas preconceituosas chamar a pobre de lésbica. Mesmo tendo um jeito atípico, Doraci era sensível pois gostava de tocar, de ouvido, a sanfona do seu falecido avô.
Um certo dia sua mãe, Dona Ana que era viúva, arrumou um companheiro chamado Devair e colocou este homem para morar em seu barraco. O problema é que este ser era um evangélico muito rígido e maltratava sua filha. Este senhor, viva dizendo coisas deste estilo para Doraci:
- Você deveria ser mais feminina!
- Precisa deixar o cabelo crescer e usar vestido!
Mas, o pior é que ele sempre implicava com o acordeon desta garota. Uma certa noite, ela foi convidada para tocar gaita numa festa junina do bairro Rebouças, porém Devair a proibiu. Mesmo assim, a menina pulou a janela e foi, às escondidas, ao evento. Lá, a garota subiu no palco e começou a tocar a sanfona. No mesmo instante, Doraci passou a trocar olhares com Rosilda, a menina mais bonita da festa. No intervalo esta garota, pensando que Doraci era um homem, chegou perto dela e começaram a conversar. Dez minutos depois, a instrumentista voltou para o palco com o acordeon.
Porém, de repente, Devair apareceu com uma faca e gritou:
- Desce do palco, menina!
A adolescente fez cara de paisagem e não obedeceu.
Como um raio, seu padastro pulou no palco, ameaçou Doraci com a faca e ela saiu correndo. Mesmo assim o homem a alcançou e cravou a arma branca em suas costas. A adolescente, cambaleante, caiu dentro da fogueira e morreu queimada.
No meio daquela confusão toda, Rosilda conseguiu salvar o acordeon e o levou para casa.
Na noite seguinte, ela teve o seguinte pesadelo:
Sonhou que o espírito de Doraci saiu de dentro da gaita e disse-lhe:
- Amada, minha alma voltou para a Terra porque São Pedro não me aceitou no céu, pois eu não fui boa suficiente. Porém, o diabo, também não me aceitou no Inferno, pois eu também não era má suficiente. Então, voltei para o Paraíso e um anjo disse que para eu entrar no céu, teria que cumprir a seguinte função: animar as festas juninas dos locais que não tem música. Porém, para isto é necessário o seguinte ritual: que treze pessoas acendam uma fogueira e digam:
" - Que a alma de uma sanfoneira apareça nesta festa! "
- Por favor, linda, leve este recado a todos.
Deste jeito, Rosilda contou sobre seu delírio a todos os amigos.
No ano seguinte, quando chegou o mês de junho, os moradores da Vila das Torres passaram a escutar um som de sanfona que vinha do barraco de Ana. Mas, ninguém conseguia desvendar o mistério, pois a gaita tinha desaparecido e Doraci morrido.
Naquele mesmo mês a associação dos moradores daquele local resolveram fazer uma Festa Junina. Porém, o violeiro da região telefonou, no começo do evento, dizendo que não poderia comparecer porque foi contratado para tocar em outro lugar.
Assim, Rosilda, que estava na festa, ao saber desta confusão pediu para que treze pessoas acendessem a fogueira e exclamassem a frase:
- Que a alma de uma sanfoneira apareça nesta festa !
De repente, uma gaiteira apareceu de costas no palco e começou a tocar. Desta maneira, todos se divertiram. Porém, quando o relógio soou meia-noite, a sanfoneira virou para frente e as pessoas reconheceram a instrumentista. Assim, alguns seres gritaram:
- É o fantasma da Doraci!
Após isto, várias criaturas saíram correndo do evento.
Reza a lenda que o acordeon de Doraci continua com Rosilda. Além disto falam, que até hoje, no mês de junho quem passa de noite em frente ao barraco de Ana pode escutar o som de uma sanfona.
Luciana do Rocio Mallon
Nenhum comentário:
Postar um comentário