quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Can, a Cachorra Escondida Por Trás da Palavra Cansada


Can, A Cachorra Escondida Por Trás da Palavra Cansada
Quando eu era criança pensava que o feminino de cão era can. Numa tarde de primavera, vi uma cachorra de rua e exclamei para a minha vó:
- Olhe lá:
- Uma can!
Porém ela corrigiu:
- Não é can.
- O nome certo é cadela, a esposa do cão.
Deste jeito eu perguntei:
- Mas se feminino de cachorro é cachorra, por que a esposa do cão não pode ser cã?
A idosa exclamou:
- Não faça pergunta difícil, menina!
A partir daquele instante, toda a vez que uma moça dizia:
- Estou cansada!
Eu imaginava uma cachorra de rua, velha, doente e macucada ao lado dela. Na verdade eu via uma can, uma cadela triste e imaginária que ficava ao lado de pessoas fadigadas depois de um árduo dia de trabalho ou de alguma atividade pesada. Este animal imaginário funcionava como um anjo que ficava com uma parte do cansaço da pessoa para amenizar o corpo e a alma do ser humano.
O problema é que toda a vez que trabalho demais e me esforço além da conta chego a ver, até hoje, uma can ao meu lado. Esta cachorra idosa e triste só vai embora depois que tomo banho e durmo.
Mas a can sempre me deixa uma surpresa no dia seguinte:
- Um osso de esperança para ser roído, aos poucos, cada vez que me esforço.
Luciana do Rocio Mallon





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