Tenho 43
Anos, Nunca Tive um Amor Correspondido e Descobri Que Sou Um Unicórnio
( Texto:
Luciana do Rocio Mallon. Desenho de Unicórnio: Grupo dos Assexuais )
Semana
passada, eu estava tomando um lanche com uma amiga e sua filha, de 10 anos de
idade, quando, de repente, a menina falou:
- Tenho medo
de nunca ter um amor que me corresponda na vida.
Então a mãe
dela disse:
- Calma,
pois você só tem 10 anos!
- Não conheço
nenhuma pessoa, com mais de 40 anos, que nunca tivesse sido correspondida.
Aliás, se existe, não deve ser um humano e, sim, um unicórnio.
Naquele
instante, exclamei com bom humor:
- Acabei de
descobrir que sou um unicórnio!
- Pois tenho
43 anos e nunca tive um amor correspondido na vida!
- Bem, mas
eu tive amores platônicos que são poéticos e líricos.
- Em 1986, quando
eu tinha 12 anos, morava em Brasília e me apaixonei pelo irmão de uma amiga.
Porém foi um amor platônico e não correspondido. Na metade de 1988, minha
família foi transferida para Curitiba e tive que morar no Paraná. Porém não
conseguia esquecer o meu amor platônico. Deste jeito eu mandava cartas que
nunca recebi respostas. Até que algum tempo depois descobri que, em Curitiba,
tinha um programa que lia cartas de amor no rádio. Assim passei a escrever
poemas dedicados a minha paixão impossível. O locutor que lia meus textos era o
excelente Vargas em seu programa de rádio chamado Love Songs.
Durante a
minha adolescência toda sofri bullying por ser obesa e masculinizada. As meninas
mais bonitas da sala falavam para mim as expressões:
- Baleia!
- Barril!
- Gorda!
- Sapatão!
- Você nunca
casará na vida!
Mesmo assim
sonhei com meu amor impossível até os 27 anos. Quando fui convidada para frequentar
um grupo de poetas da vida real. Na primeira vez que entrei lá, avistei um moço
muito bonito que parecia aqueles roqueiros de Seatle dos anos 90. Inclusive ele
lembrava muito o cantor Kurt Cobain. Porém pensei:
- Um homem
destes nunca vai querer nada comigo!
Até que um
dia, nestes encontros literários, conversamos sobre cursos gratuitos e falei
que fazia aulas em um local aberto para a comunidade, no Centro de Curitiba, e
escrevi o endereço para esta pessoa. Até que na semana seguinte o moço passou a
frequentar o local todos os dias. Deste jeito, ele me passou a tratar como
namorada e, realmente, pensei que estávamos namorando. Até que, no final, o
moço deu indiretas de que tudo aquilo era uma brincadeira. Então se era tudo um
jogo, com certeza, não fui correspondida. Algum tempo depois, ele foi embora
para sua cidade natal. Não condeno o rapaz por estas atitudes, afinal,
brincadeiras acontecem.
Depois um amigo,
pelo qual eu não era apaixonada, insistiu em namorar comigo e eu aceitei.
Porém, o namoro acabou porque eu não tinha interesse nele.
Após isto,
nunca mais namorei ninguém. Durante todo este tempo, que fiquei sozinha, aproveitei
para fazer cursos, trabalhar e conhecer o meu eu interior. Foi durante este
período que descobri que, realmente, tinha sérios problemas de coordenação
motora fina e resolvi fazer aulas de dança para diminuir estes transtornos. Também,
durante esta fase, minha mãe teve um tumor na cabeça e precisei me dedicar a
sua saúde. Desta maneira coloquei em prática os conhecimentos que obtive
fazendo o curso de Cuidadora de Idosos.
Graças à
solidão conheci mais sobre minha personalidade e me dediquei sobre projetos
construtivos. Inclusive ganhei concursos literários e fui eleita madrinha de
uma ONG que ajuda crianças carentes.
Ninguém é
obrigado a viver um amor correspondido, nem a casar e muito menos a fazer sexo.
Isto são apenas tijolos que a sociedade coloca nas telhas das cabeças das
pessoas como obrigações.
Se todas as
criaturas encontrassem seus romances ideais, a sociedade estaria mais
desiquilibrada do que está.
Aprendi que
estar solteira e fazer o bem é a minha missão. Pois seria impossível me dedicar
às certas atividades construtivas se eu fosse correspondida.
Portanto, é
normal você desejar viver um amor correspondido um dia. Mas enquanto isto não
acontece, se dedique aos estudos e, principalmente, a fazer o bem. Mas se o
amor não aparecer, como foi o meu caso, saiba que você tem uma missão nobre a
cumprir. Pois bem melhor do que viver uma paixão correspondida é se dedicar ao
amor pela humanidade com o objetivo de fazer um mundo melhor.
Com relação
ao unicórnio, estudei muito sobre esta figura mitológica e descobri que ela tem
muito a ver com minha vida. Pois reza a lenda que só as virgens podem dominar
um unicórnio. Talvez eu seja aquele unicórnio com asas, chamado Pégaso, pois tenho
asas que a Poesia e a Solidão colocaram em mim e por isto viajo até hoje ao
universo da imaginação.
Luciana do
Rocio Mallon
Que história linda de vida<3
ResponderExcluirBela história! Amei esse unicórnio :3
ResponderExcluirOi ...
ResponderExcluir