Meu Amigo
Que Vendia Cartões Com Poemas e a Lenda do Quero-Quero
Em 2002 eu
tinha um amigo que vendia cartões com poemas de própria autoria, dentro de uma
cesta artesanal, no Centro de Curitiba.
Num dia de
inverno, sem querer, vi este colega na Rua Quinze de Novembro. Então, como
estava ventando muito, pedi para que ele protegesse os poemas que estavam na
cesta. Porém, o moço colocou seu cachecol por cima dos cartões e começou a
andar.
Neste
passeio, falamos sobre sofrimento e as dificuldades da vida. Até que chegamos a
uma praça, chamada Santos Andrade, e ficamos encantados com os pássaros,
chamados quero-queros, no local. Estas aves sobrevoavam nossas cabeças chegando
bem perto da gente. De repente a ventania forte carregou o cachecol, que
protegia os cartões, para longe. Assim, rapidamente, um quero-quero
aproximou-se da cesta e roubou um dos cartões. Deste jeito fiquei assustada.
Mas meu amigo começou a dar risada. Por isto, perguntei:
- Por que você
está dando tantas gargalhadas?
Ele
explicou:
- Porque o
pássaro roubou, justamente, o poema que fala em asas e liberdade.
Logo, entrei
na brincadeira:
- Quem sabe
o quero-quero está com uma crise de identidade e pensa que é um pombo-correio.
Por isto, afanou o cartão para dar para a amada de alguém.
Naquele
instante uma lembrança veio a minha cabeça:
- Nossa!
- Agora me lembrei
da lenda desta ave. Dizem que quando um quero-quero rouba o objeto de alguém,
significa que a pessoa tem uma relação especial com a cidade e que, se não
pertence à terra deste pássaro, pode até viajar, mas sempre acabará voltando.
Naquele
momento, um guarda aproximou-se e exclamou:
- Jovens,
saiam desta área!
- Pois os
quero-queros fizeram ninho, nesta parte da praça, e por isto estão atacando as
pessoas que passam perto. Dizem que estas aves tem um ferrão perigoso nas asas.
Desta
maneira, obedecemos ao guarda e saímos do local. Assim comentei:
- A mesma
asa que dá liberdade tem o poder de ferrar com alguém.
- Reza a
lenda que o quero-quero foi expulso do paraíso por querer demais.
O mais
interessante é que, em 2003, meu amigo foi para a cidade dele. Porém, agora, em
2017 ele voltou para Curitiba.
Luciana do
Rocio Mallon
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