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Gola Chocker, a Deusa da Mesopotâmia e a Poetisa Enheduanna
Todos os dias, recebo mensagens
de pessoas pedindo para que eu escreva textos sobre moda. Na verdade não sou
muito ligada ao mundo da beleza. Mas estudei História da Moda e trabalhei
durante anos em lojas de roupas. Sempre gosto de ligar vestuário e cultura, tanto
que um dos textos mais lidos que escrevi chama-se: Moda e Espiritualidade, onde
explico que cada peça antiga tinha um significado místico.
Hoje falarei de um modelo de
blusa que vem fazendo a cabeça da mulherada desde o começo deste ano de 2017: a
blusa com gola chocker, que é uma camiseta justa com uma espécie de coleira
costurada junto a ela.
Esta peça fez sucesso na década
de 60 com as estrelas de filmes de Hollywood e com as cantoras da Jovem Guarda.
Depois estilistas tentaram relançar este modelo de blusa em 1986, mas não
tiveram sucesso.
Porém a origem da gola chocker
tem mais de 3000 anos antes de Cristo e, segundo a lenda, foi criada pela deusa
da Castidade da Mesopotâmia.
Diz o mito que naquela região
havia uma deusa virgem, que não aceitava pretendente nenhum. Num dia de inverno,
ela brigou e gritou em voz alta com a deusa Istar, que retirou a voz da
donzela. A moça ficou chateada, dormiu e teve uma visão de uma espécie de anjo
que lhe ensinou a fazer uma peça de roupa para curar sua garganta. No dia
seguinte, esta jovem pegou seu tear de costura e fez um vestido grudado com uma
espécie de coleira cobrindo o meio da sua garganta. Após três dias, vestindo
esta roupa, sua voz voltou. Deste jeito, ela costurou várias peças do mesmo
modelo. Mais tarde Marduk, o chefe dos
deuses nomeou esta donzela como deusa da castidade, virgindade, Poesia e
Literatura.
A gola chocker acompanhada de um
decote “V” significava o lado escuro, mas necessário, de toda a mulher.
Já a gola chocker junto com um
decote em forma de meia-lua representava o sorriso e a alegria.
Mais tarde, na Mesopotâmia, surgiu uma escritora e poetisa chamada Enheduana, que dizia conversar com a deusa da
Poesia e da Castidade. Ela foi princesa e sacerdotisa, sem falar que foi uma
das primeiras escritoras a fazer poemas considerados feministas. Além disto, esta
poetisa lutou pela alfabetização das meninas naquela região. Por ter visões com
a deusa da virgindade, a escritora passou a se vestir como esta entidade com
seus vestidos de gola chocker.
Durante o Brasil-Colônia, muitas
escravas eram vendidas com correntes grossas no pescoço e isto fazia com que
elas ficassem com marcas horríveis. Então, nas senzalas, elas adaptaram roupas
que disfarçassem estas marcas e passaram usar a gola chocker cobrindo o
pescoço.
Bem, esta é a história repleta de
lendas e misticismo da gola chocker. Ela fica elegante tanto com blusas quanto
em vestidos.
Luciana
do Rocio Mallon
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