O Dia Em Que Me Chamaram de Gansa Cabaça
Dias atrás, eu estava andando pelo centro da cidade onde
moro, Curitiba. Quando, de repente, um ciclista invadiu a calçada onde eu
caminhava como pedestre, quase me atropelou e gritou:
- Sai da frente, gansa cabaça!
Naquele momento, não entendi bem o xingamento. Mas no caminho
da volta, dentro do ônibus, comecei a refletir sobre a frase. Logo conclui que,
realmente, sou uma gansa cabaça. Pois sempre achei errado ter relações íntimas
antes do casamento e por isto me guardei até hoje. Além de tudo, tenho
consciência de que nunca poderei namorar e nem casar porque tenho dois
problemas que me impedem de realizar estes sonhos: Fibromialgia e Chron no
intestino.
A Fibromialgia causa dores horríveis no corpo e não permite
que alguém me toque com mais intimidade. O Chron no intestino, de vez em quando,
deixa o meu aparelho preso e, ás vezes, solta demais. Assim eu defeco sem parar
e fico, realmente, parecendo uma gansa. Deste jeito, permaneço com o cheiro horrível
e tenho vergonha de me aproximar das pessoas.
Algum tempo depois, pesquisei sobre a simbologia da gansa e
descobri que, na Idade Antiga, em alguns lugares da Europa este animal
simbolizava a guardiã das lendas. Por isto é comum o desenho onde uma gansa
conta histórias para as crianças. Através disto notei que, realmente, sou uma
gansa porque sou escritora de lendas.
Logo depois assisti a um vídeo onde uma noiva falou que
permaneceu casta até os 22 anos e depois se casou. Não vi nada demais, nestas
atitudes, porque tenho 44 anos e, também, ainda sou virgem. A idade e as
doenças não me permitem mais sonhar com um romance ou casamento. Porém a figura
da gansa cabaça renasce a cada segundo em mim. Todo o minuto chega uma nova
inspiração para escrever um poema e todos os dias descubro uma lenda
desconhecida para relatar às novas gerações.
Portanto, desejo vida longa para a gansa cabaça que vive
dentro do meu espírito. Esta mesma gansa sonha com um amor que tive no passado
e por mais que me rejeite, sinto que ele está a cada fantasia mais perto de
mim.
Luciana do Rocio Mallon
Nenhum comentário:
Postar um comentário