A Bailarina
do Céu Não Tem Caixa de Música e Nem Corda
Dias atrás
um amigo falou para outro colega, a seguinte frase na minha frente:
- Não pode
dar corda para a Tia Lu, senão ela funciona demais e acaba dançando quatro coreografias
seguidas num palco.
Assim dei
risada e comentei:
- Poxa, logo
eu que pensei que era uma bailarina de caixinha de música e não de corda.
Deste jeito
me lembrei da boneca Bailarina, da marca Estrela, do final dos anos 70, que
quanto mais a criança dava corda mais ela girava. Porém se a boneca rodopiasse
rápido demais, ela adquiria muitos mais riscos de cair no chão. Talvez a corda
em excesso se transformasse em uma corda invisível de barbante, onde a
bailarina se enforcava sem querer.
Naqueles
tempos de infância, eu gostava de admirar a dançarina da caixinha de música,
que também funcionava como porta-bijuteria. Mas o problema é que esta boneca
sempre bailava a mesma canção e vivia presa numa caixa.
Sem falar
que eu também admirava ver balé no teatro. Porém mesmo assim achava que o
espaço da dançarina era muito limitado.
Com o tempo
notei que não poderia dançar por causa da corda que algumas pessoas me davam.
Pois não devemos bailar conforme os aplausos dos outros. Afinal se derem corda
demais ou de menos cabe ao espírito buscar o equilíbrio interior.
Também
percebi que não deveria ser uma bailarina de caixinha de música. Ás vezes, na
vida, precisamos dançar conforme a canção. Porém não devemos aceitar sempre o
mesmo ritmo e nem nos esconder num universo particular.
Assim
refleti que a bailarina do palco vive uma fantasia, por isto ela precisa de um
teto aberto que seja real.
Agora tento
ser a bailarina do céu, onde as batidas de asas dos pássaros também são
aplausos. Esta dançarina ergue os braços para saudar o Sol e sabe dançar nas
pontas dos pés para driblar as dificuldades fazendo do tutu de filó um círculo
mágico de proteção.
Hoje
agradeço as cordas, mas procuro não me sentir pilhada e busco funcionar com a
luz do Sol da força interior.
Porém se
alguém me der corda demais não me recusarei a dançar mesmo que seja com
moderação. Pois há sonhos que precisam ser compartilhados.
Luciana do Rocio Mallon
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