Empreendedorismo,
Adolescentes, Bombons e Lendas
Em 1992, eu
possuía dezessete anos de idade, fazia cursinho no Centro de Curitiba e tinha
uma colega chamada Paty, que era uma excelente cozinheira.
Um certo
dia, ela me perguntou:
- O que faço
para ganhar um dinheiro extra, sem prejudicar as aulas pela manhã e nem minhas
tardes de estudos em casa?
Então, eu
respondi:
- Você disse
que era uma excelente cozinheira e que sabia fazer doces maravilhosos...
- Que tal
vender bombons caseiros com recheio de frutas reais, aqueles embrulhados em
papel celofane, no colégio?
Minha amiga
comentou:
- O problema
é que em toda a sala de aula há uma garota que vende bombons caseiros com
recheio de frutas.
Logo
expliquei:
- Mas, você
pode fazer um bombom diferente, com um papel dentro contendo um poema e uma
previsão, estilo biscoito chinês. Eu posso escrever pequenos poemas de um lado
e uma previsão do outro. Assim você poderá batizar os produtos de: bombons da Poesia e da Sorte.
Porém, em troca vou querer um bombom por semana, já que escreverei as
mensagens.
Deste jeito
a colega exclamou:
- Concordo!
Assim passei
a escrever poemas de um lado com previsões de outro e Paty enrolava estes
papéis dentro dos bombons. Exemplo:
De um lado
tinha este verso:
“Você que
comprou este bombom
Precisa
relaxar com uma melodia
Pois escutar
um belo som
Traz paz e
harmonia.”
Já na outra
face tinha esta leitura de sorte:
“Hoje, você
vai encontrar sem querer o seu amor platônico.”
Outro
exemplo:
De um lado
estava o poema:
“Você está
triste e depressivo
Mas este
bombom vai animar
O seu
espírito que se sentirá vivo
Depois que
este chocolate saborear.”
Do outro
lado estava escrito:
“Ao chegar a
sua casa você receberá uma surpresa.”
Depois de
uma semana vendendo bombons, passamos a receber os seguintes elogios nos
corredores:
- Vocês são
místicas de verdade, pois a previsão que estava no papel deu certo no mundo real!
- Os poemas
embrulhados nos bombons são capazes de animar a minha vida. Eles funcionam como
um complemento do chocolate.
Fizemos este
tipo de trabalho até o vestibular. Porém dei autorização para que Paty
continuasse usando meus poemas e mensagens dentro dos bombons se desejasse
vende-los em outros lugares.
Depois eu
soube que esta jovem passou a comercializar bombons e outros doces, através de
um carro com alto-falante no bairro em que ela morava chamado Cidade
Industrial.
Um dia, me
falaram que uma caminhonete bateu contra o carro dela e, naquele mesmo instante,
bombons foram jogados para todos os cantos das ruas. Por isto algumas pessoas
pegaram os chocolates. Porém, infelizmente, Paty faleceu.
Dizem que
alguns dias depois de sua morte, criaturas que saquearam os bombons fizeram
comentários como:
- Achamos
que a garota que morreu virou santa, pois as previsões que estavam nos papéis
dos bombons deram certo.
Porém, algo
estranho passou a acontecer. Na casa, onde Paty morava com os pais, sempre às
quatro da tarde, a residência passou a exalar um cheiro de chocolate. O problema
é que os pais da garota não sabiam fazer bombons. Logo surgiu a lenda de que o
espírito da garota andava pela região. Para reforçar esta fantasia, crianças
pobres passaram a encontrar bombons, com poemas, em lugares inusitados do bairro.
Muitos anos
se passaram e estes acontecimentos mostraram que adolescência, empreendedorismo
, Literatura e criatividade podem andar juntos e até se tornarem parceiros
imortais.
Luciana do
Rocio Mallon
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