Lenda da Hermafrodita de Curitiba
Na cidade de Curitiba, no século dezenove, havia um casal
chamado José e Ana, que tinha o sonho de ter filhos gêmeos. Para realizar este
sonho, a mulher foi até uma “curandeira” e falou:
- Meu sonho é ter um casal de gêmeos.
Deste jeito a feiticeira disse:
- Então você precisa fazer a seguinte simpatia:
- Consiga: uma vela azul e rosa, um punhado de feijão, um
punhado de lentilha e um prato virgem.
- Numa noite de Lua Nova, pegue a velas rosa e azul e
coloque-as num prato virgem. Mas, não deixe elas se grudarem. Depois coloque
metade de lentilha e metade de feijão na frente das velas.
Assim, Ana tentou fazer a magia, mas como não achou
lentilhas fez o ritual só com grãos de feijão. Porém, ela não reparou que as
velas rosa e azul se grudaram.
Nove meses depois, nasceu um bebê. Porém, a parteira notou
que a criança tinha os dois órgãos sexuais e avisou:
- Dona Ana, o bebê é saudável, mas tem um problema: ele tem
os dois sexos.
A jovem exclamou:
- Como assim?!
- Não são gêmeos?!
- Tem dois sexos?!
A parteira explicou:
- A criança é hermafrodita, pois é menino e menina ao mesmo
tempo.
Deste jeito, a idosa mostrou o bebê nu à mulher, que se
assustou e falou:
- Assim, precisamos de um nome que sirva tanto para homem
quanto para mulher...
- Hum...
- O nome da criança será Darci.
- Com relação ás roupas, nada de azul e nada rosa. Pois, o
bebê vestirá só cores neutras: bege, amarelo, branco, etc.
Então, a dona da casa mandou chamar a curandeira e pediu
explicações:
- Eu paguei caro por uma simpatia que me dessem gêmeos de
sexos diferentes: um menino e uma menina. Porém, fiquei grávida de um
hermafrodita.
- O que deu errado?
A bruxa explicou:
- A senhora não fez nada fora das normas?
- Será que as velas grudaram?
- Usou feijão e lentilha?
Ana comentou:
- Bem, não achei lentilha, por isto só usei feijão.
- E eu acho que as velas grudaram uma na outra, sim.
A feiticeira comentou:
- Então, foi isto!
- Quando falta lentilha e as velhas se grudam, nasce uma
criança hermafrodita.
A nova mãe se conformou com a explicação. Desta maneira, ela
passou a mentir que ganhou um casal de gêmeos para a vizinhança. Por isto, ás
vezes, ela vestia o bebê de menino, e, em outros momentos vestia o bebê de
menina. Porém, as crianças nunca eram vistas juntas.
Darci cresceu sempre pensando que deveria usar roupas
masculinas e femininas em dias alternados para não sofrer preconceito. Por isto,
sua mãe sempre proibia esta criatura de freqüentar festas e de ter amigos.
Uma certa noite, este ser colocou sonífero na comida dos
seus pais para poder ir a um baile. Desta maneira, Darci colocou seu melhor
vestido e foi para o evento. Porém, três homens acharam este andrógeno bonito e
começaram a assediá-lo. Por isto, Darci saiu da festa, mas os rapazes foram
atrás. Até que numa rua deserta decidiram abusar da pobre criatura. Porém, os
homens se assustaram ao ver que aquele ser tinha os dois sexos, saíram correndo
e espalharam o boato pela cidade.
Assim, a casa de Darci foi alvo de pichação e protestos
como:
- Fora, Darci, pois gente com dois sexos é coisa do diabo!
O preconceito foi tanto que, numa noite, Darci saiu vestido
com uma metade do corpo de homem e outra metade do corpo de mulher, com uma cruz
e um machado nas mãos, porém com uma arma na cintura. Deste jeito, este ser foi
até a esquina de uma rua e se suicidou com um tiro no coração.
Por coincidência, a rua onde aconteceu esta tragédia, hoje,
chama-se Cruz Machado para homenagear um escritor com este nome.
Depois da morte de Darci pessoas afirmaram ver, nesta rua,
uma criatura, que metade tem roupa de homem e outra metade possui vestes de
mulher. Reza a lenda que se você deixar, uma calcinha e uma cueca na esquina da
Rua Cruz Machado, o espírito de Darci realiza o seu pedido.
Luciana do Rocio Mallon
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