Complexo de
Sininho: Uma Reflexão Sobre a Magia da Infância
Todos sabem
que existe o Complexo de Peter Pan, que é usado para o homem que não deseja
amadurecer.
Porém,
também, há o Complexo de Sininho, referente à fada que faz par com o Peter Pan
na fábula, que é utilizado para a mulher que não quer crescer.
Desde os meus
cinco anos sempre tive muito medo de menstruar. Pois via as mulheres com dores
e usando absorventes que ficavam cheios de sangue. Até hoje não entendo as
meninas que sonhavam com isto.
Um dia, aos
dez anos de idade, tinha comido muita beterraba. Então fui ao banheiro e vi que
havia uma mancha vermelha na calcinha. Minha mãe abriu a porta e olhou para o
fato. Assim, perguntou:
- O que é
isto?
- Vieram as
regras?
Deste jeito
respondi:
- Devo ter
defecado esta cor, na calcinha, porque comi muita beterraba.
Ela mandou
trocar a peça íntima e colocar um absorvente higiênico da marca Moddes, que via
numa embalagem rosa e era enorme. Desta forma obedeci e vi que realmente
tratava-se da minha primeira menarca.
Logo minha
mãe telefonou para parentes dizendo que minha primeira menstruação chegou.
Assim
imaginei que minha infância tinha acabado e comecei a chorar porque pensei que
não poderia mais brincar de bonecas e nem assistir aos desenhos animados. Desta
maneira entrei numa tristeza profunda.
Para piorar,
me falaram:
- Cuidado
que menina que menstrua, pode engravidar!
Eu, naquela
época, nem sabia como as crianças eram feitas. Pois não havia tanta pornografia
na televisão como agora. Então, naquele instante, me pus a chorar porque sempre
tive um pavor inexplicável de ter filhos.
No dia
seguinte, pensei que meu corpo mudaria por inteiro, num passe de mágica, e me
olhei no espelho sem notar nada espetacular. Porém percebi que desde o ano
anterior ele vinha se modificando aos poucos. Assim peguei nos meus brinquedos,
comecei a me divertir e exclamei:
- Não
deixarei que menstruação nenhuma tire vocês de mim!
- Prometo
que demorarei ao máximo para arrumar um namorado.
- Nunca
perderei a minha comunicação com seres encantados, como: fantasmas, anjos e
espíritos.
Com o tempo
cresci. Mas mantive a precaução de não deixar estranhos me tocarem. Somente
anos depois descobri que a castidade mantém a intuição da infância e a magia do
sagrado feminino. Pois as mulheres que não tem contato físico com homens não
possuem a aura contaminada pela energia masculina e, desta forma, conservam a
Magia original.
Continuei
com receio de casar e engravidar. Pois sempre vi muitos casos de violência
doméstica ao redor.
O importante
é que cumpri o que prometi. Hoje tenho 43 anos de idade, nunca deixei de
brincar e as experiências sobrenaturais aumentam cada dia mais. Desde a
adolescência, para resgatar a Magia da infância, pesquiso lendas do imaginário
popular.
Talvez eu
seja uma fada Sininho, que não deixa a alma amadurecer de vez porque sabe que o
preço é a corrupção do corpo. Minhas asas são as mil criatividades e a varinha
de condão é a vontade de fazer o bem realizando sonhos com a Magia natural.
Luciana do
Rocio Mallon
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