Eu Abro os Livros e Abro as Pernas, Mas ás Vezes Não
Consigo Abrir Meu Coração
Li num muro
com letras nada fraternas:
“ Abra os livros e feche estas pernas!”
Mas fazer uma abertura não me impede de ler
Realizo este passo de balé lendo com prazer!
Eu abro os livros, ao mesmo tempo, que abro as
pernas
Este exercício me torna uma pessoa resiliente
Minhas pernas transformam-se em páginas eternas
Em cada livro que leio tão alegre e contente!
Quando eu uso decote num calor quente
Sinto que consigo abrir o meu profundo peito
Para um livro que se sentia abandonado e carente
Numa estante velha, triste e sem jeito!
Só não consigo abrir o coração por causa do
preconceito
Há segredos trancados e presos dentro do meu
espírito
São aves que desejam voar, mas que se deitam no
leito
Por causa da sociedade cruel que prende o sonho
lírico
Eu abro o livro, eu abro as pernas e abro o que eu
quiser
Porque acima de tudo sou uma independente mulher
Só não sei quando abrirei meu coração nesta terra
doente
Mas o livro e o balé não deixam minha alma ficar
carente
Realizar um passo de dança com abertura
Tendo, nas mãos, um livro de leitura
É um gesto de amor, doçura e ternura
Contra o preconceito, ele tem a cura.
Luciana do Rocio Mallon
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