quinta-feira, 17 de abril de 2025

O Dia Em Que Lavei os Pés da Menina Misteriosa na Quinta-Feira da Semana Santa

 

O Dia Em Que Lavei os Pés da Menina Misteriosa na Quinta-Feira da Semana Santa

 

Em abril de 1982, eu tinha sete anos e estudava numa escola de freiras. Na quinta-feira da Semana Santa, a freira, que dava aula de Religião falou:

- Hoje a aula será diferente:

- A turma irá para o palco onde há cadeiras, toalhas e bacia com água!

Assim a segunda série inteira foi ao teatro da escola, onde a plateia estava vazia.

A professora perguntou:

- Quem gostaria de lavar os pés e quem deseja ter os pés lavados?

Naquele mesmo instante vozes exclamaram ao mesmo tempo, frases como:

- Não vou aguentar o chulé de ninguém!

- Olhe o fedor dos pés!

- Que nojo!

Porém eu gritei mais alto ainda:

- Quero lavar os pés dos colegas!

Então todos me olharam com olhar de espanto.

Dessa maneira lavei os pés de doze colegas, um por um. Então notei que eles tiveram uma sensação de alegria e alívio depois que lavei os pés deles. Porém, percebi que na plateia, tinha uma menina desconhecida sem o uniforme e sem uma das pernas, por isso ela carregava muletas.

A freira explicou que Jesus lavou os pés dos apóstolos num ato de humildade e que deveríamos aprender com os exemplos do Mestre.

De repente, o sinal do recreio tocou e todos correram para o pátio, então me aproximei da garota das muletas e perguntei:

- Qual é o seu nome?

- Nunca vi você por aqui.

Ela respondeu:

- Eu queria tanto que alguém lavasse o meu pé.

Então falei:

- Posso lavar agora mesmo, já que a professora ainda não recolheu os materiais e é hora do lanche. Para dizer a verdade, a freira deve estar na sala dos professores.

Dessa maneira lavei o pé da menina na bacia, com sabonete, fiz massagem na sola e enxuguei com todo o cuidado. Após isso ela chorou:

- Depois que amputei uma perna, nunca ninguém quis lavar meu pé.

Após isso dei um abraço, mas ela foi até a saída da escola, abriu o portão, que geralmente ficava trancado durante o recreio e foi embora.

Depois perguntei para a professora sobre quem era a menina que estava sem uniforme e com muletas. Mas ela disse que não viu ninguém assim durante a aula.

Porém, de algo eu tenho certeza:

Nunca me esquecerei daquela menina de muletas da quinta-feira da Semana Santa.

Luciana do Rocio Mallon

#lucianadorociomallon

#quintafeirasanta

#semanasanta

 

 

 


Um comentário:

  1. Meus parabéns, conto lindo e mostra demais como o mundo deveria ser e que o contato com o sobrenatural, muitas vezes é uma ação necessária. Lindo demais.

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