Quando Fui Além do Pseudônimo Masculino
Meu nome é Luciana do Rocio Mallon, sou uma pessoa do sexo
feminino e meu passatempo sempre foi escrever.
Nos anos noventa, eu gostava de ouvir um programa chamado
Love Songs, na Rádio Caiobá FM, com o locutor Vargas. Lá era um espaço para as
pessoas mandarem os poemas para os amados.
Como, de vez em quando, aparecia um eu-lírico masculino de
dento de mim, passei a mandar alguns textos com o pseudônimo de Henrique. Mas
quando o meu interior feminino voltava, eu mandava poemas com o meu nome real
mesmo. No final dos anos noventa, o locutor Vargas saiu desta rádio e eu deixei
de escutar o programa, por causa disto. Pois com os outros radialistas não
tinha graça.
Em 2004, passei a frequentar um grupo de poetas da vida real,
onde a maioria dos membros era idosa. Ao mesmo tempo, eu possuía um blog na
Internet onde escrevia textos de vários gêneros e estilos, alguns eram eróticos.
Um certo dia, um senhor moralista imprimiu meus textos mais quentes e mostrou
para a coordenadora do grupo, que também era uma pessoa da terceira idade.
Então ela tomou a liberdade de me chamar a atenção dizendo que uma menina não
deveria escrever textos sensuais, pois até os homens estavam assustados com os
conteúdos. Assim fui afastada desta equipe. Logo, percebi que esta foi uma
opinião machista por parte de algumas pessoas de lá.
Por isto, esperei a poeira baixar e resolvi visitar o grupo
vestida como homem. Desta maneira, o maquiador Gustavo colocou bigode em mim
fora outros truques de pintura. Além de me emprestar terno e gravata. Quando
cheguei ao local, não falei nada, apenas entreguei alguns poemas sensuais
assinados com o pseudônimo de Henrique. A idosa, que era dona do grupo, leu os
textos em voz alta e ainda por cima elogiou. O interessante é que ninguém
suspeitou que eu e Henrique éramos as mesmas pessoas.
Conheço lendas de mulheres que durante a Idade Média e,
também, no século dezenove precisavam escrever textos sensuais com pseudônimos
masculinos por causa do machismo. Mas, infelizmente, enfrentei situação semelhante
em 2004.
Luciana do Rocio Mallon
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