Como Superei o Cutting na Adolescência
Meu nome é Luciana do Rocio, sou pesquisadora de causos, e,
também, como fui professora costumo
receber as seguintes mensagens de mães:
- A minha filha adolescente está se cortando, o que devo
fazer?
- Por que isto acontece?
O hábito de uma jovem se cortar chama-se cutting. Isto ocorre
porque, geralmente, a adolescente deseja aliviar a angústia que sente, em sua
alma, que normalmente é causada por bullying na escola.
Entre 1986 e 1988, eu era adolescente, morava em Brasília,
onde tinha amigos tanto no colégio quanto na quadra. Porém no final do ano meu
pai foi transferido para uma cidade do interior do Paraná, perto de Curitiba.
Na nova escola, quando eu tinha de 14 para 15 anos de idade,
passei a sofrer bullying por ser obesa e maculinizada. Pois meus colegas me
chamavam de: gorda, baleia, sapatão e bicho feio. Além de falarem, na minha
cara, que eu nunca arrumaria um namorado por causa da minha aparência. Quando
as professoras passavam trabalhos em grupo, ninguém queria fazer comigo porque
eu era considerada a sapatão do colégio. Como todo dia caçoavam de mim, eu
passei a sentir uma angústia muito grande. Até que um dia eu vi uma gilete e
comecei a me cortar nas coxas e nos braços. Como eu era muito romântica, mas desprezada
pelos rapazes, passei a fazer cortes em formato corações, como se estas figuras
tivessem a magia de me arrumar um pretendente. Já que o meu amor platônico
tinha ficado em Brasília.
Minha família, ao notar a minha mudança de comportamento, me
levou a uma psicóloga. Porém isto me causou mais angústia ainda. Pois a doutora
falou que tinha a obrigação de arrumar um namorado e de me enfeitar. Porém eu
não conseguia arrumar ninguém, por causa do bullying e não tinha condições
financeiras de cuidar da aparência. Desta forma, dei um jeito de dispensar a
terapia, continuei me cortando e passei a usar roupas que cobriam o corpo
inteiro para disfarçar os cortes e a minha obesidade.
No final de 1990, minha família falou que moraria em
Curitiba. Assim dei graças por ter que mudar de cidade. Assim, notei que no
novo colégio não sofri mais bullying e que arrumar um namorado não era uma
obrigação. Como sempre gostei de escrever, passei a criar poemas toda a vez que
sentia angústia e ansiedade em vez de me cortar. Então, aos poucos parei com a
automutilação. Hoje, tenho 42 anos e não faço mais isto.
Por tudo que passei, darei dicas para você saber se sua filha
está praticando cutting: observe se a adolescente está usando mangas e roupas
compridas em dias quentes; note se ela tornou-se mais calada; verifique se os
curativos estão sumindo de sua casa e reviste o corpo da sua filha atrás de
marcas de cortes. Se você encontrar todos estes sinais, vá até a escola, peça
para conversar com a orientadora educacional e pergunte sobre o comportamento
da jovem, seu rendimento, seus relacionamentos com os colegas, etc. Peça para
que a orientação e a direção da escola observe o comportamento de sua filha. Depois
procure um médico e um psicólogo com referências.
Lembre-se: praticar autoagressão não é falta de caráter.
Pois é apenas um sinal inconsciente de um pedido de ajuda.
Luciana do Rocio Mallon
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