quinta-feira, 2 de abril de 2015

Lenda do Anjo da Castidade

Lenda do Anjo da Castidade       
                                                           
Das lendas que me contaram quando eu era criança, a que mais me traumatizou NÃO foi a Lenda do Lobisomem e NEM a do Bicho Papão, e, sim a Lenda do Anjo da Castidade.
A minha infância foi recheada de causos populares, passados de geração em geração. Apesar dos adultos confessarem, já na primeira infância, que Papai-Noel, Coelhinho da Páscoa e Cegonha nunca existiram, eu passei anos da minha vida acreditando na Lenda do Anjo da Castidade.
Uma vez falaram, desta maneira, para mim:
“- Nunca tenha relações íntimas, antes do casamento, porque o Anjo da Castidade vê tudo. Toda a noite ele visita as meninas para verificar se elas não deram liberdade para algum homem. Então para a garota que nunca foi tocada, o anjo traz, como prêmio,  um marido rico, bonito, viril e fiel. Mas quando este querubim descobre que a menina não é mais donzela, no mesmo instante, ela perde a proteção divina e só consegue maridos bêbados, bandidos, efeminados e maus. Também nunca se esqueça de lavar muito bem as partes íntimas no bidê e de colocar calcinhas delicadas. Pois toda a noite o Anjo da Castidade vem fazer a sua revista. Afinal, este querubim é mais poderoso do que o Cupido, pois ele guia através da sua luz espiritual os companheiros bons somente para as meninas que se preservam.”
A partir desta história, eu comecei a me lavar todos dos dias no bidê, antes de dormir, e passei a só vestir calcinhas com rendas, ou, estampas bonitas. Também comecei a acreditar que os melhores homens eram destinados só para as mulheres virgens.
Com o passar do tempo passei a lavar as minhas partes íntimas, várias vezes por dia no bidê, o que estava prejudicando a minha pele. Assim fui à médica que me receitou cremes e falou que eu estava com TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Só depois de alguns anos, descobri que o Anjo da Castidade não passava de uma história que as mães contavam para manter as suas filhas na linha. Pois vi que mulheres travessas conseguiam maridos bons.
Hoje, não tenho mais o TOC, apenas uma ponta de trauma causada pela Lenda do Anjo da Castidade.
Luciana do Rocio Mallon





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