A Mochila de Spikes Contra Tarados de Onibus
Quando eu tinha 14 anos, estudava numa escola no Bairro
Juvevê, na cidade de Curitiba. Na volta para casa, pegava o ônibus de modelo
expresso, um veículo enorme. Infelizmente era comum homens com más intenções
tentarem se encostar nos corpos das estudantes dentro destes coletivos. Uma
vez, rolou a notícia de que um idoso tarado teria se masturbado dentro de um
dos ônibus, que passava na frente da escola, e molhado o uniforme de uma colega.
Assim, o medo de que algum maníaco me assediasse no coletivo aumentava cada vez
mais.
Um certo dia, fui fazer um trabalho na biblioteca pública do
Centro. Quando desci a Rua Doutor Muricy e avistei uma mochila grande com
spikes, numa loja chamada Túnel do Rock. De repente pensei:
- Se eu ajustasse esta mochila na altura do meu bumbum, ela
evitaria que homens encostassem em mim.
Quando cheguei em casa, pedi a minha vó este objeto como
presente de aniversário. Por isto, ganhei esta mochila com preguinhos
protetores e ajustei de uma maneira em que o objeto protegesse as minhas
nádegas. Deste jeito me senti mais confortável para andar de ônibus e sugeri as
minhas amigas, que estavam sendo assediadas nos coletivos, que adquirissem esta
mochila também. Desta forma, várias meninas comparam o objeto. Por curiosidade,
o número de homens que pegava as linhas de frente a escola, diminuíram. Logo
uma pergunta me atenta até hoje:
- Será que a maioria daqueles seres tomava as linhas, que
passavam em frente ao colégio, somente para mexer nos corpos das estudantes?
Só sei que com aquela mochila de spikes eu me sentia
protegida. Às vezes, eu me olhava no espelho, com aquele objeto nas costas, e me
achava uma tartaruga-ninja protegida com um casco mágico.
Um ano depois, fui até a biblioteca e resolvi pesquisar
sobre a origem dos spikes colocados em roupas e objetos. Desta maneira descobri
que eles foram inventados pelas mulheres dos invasores bárbaros, justamente,
para evitar estupros de homens de outras etnias. Por isto, elas usavam spikes
nas pulseiras de couro e nas roupas. Caso alguém atacasse estas moças, elas enfiavam
os spikes cortantes na pele do agressor.
Somente tempos depois, nas décadas de setenta e oitenta, o movimento
punk adotou spikes como adornos.
Fiquei contente ao saber que usei uma feminina arte milenar
para me defender.
Luciana do Rocio Mallon
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