Espaço Carmesim, Pichações e Trens
Em 1979, eu tinha cinco anos de idade e um dos meus
passatempos preferidos era ver os trens passarem num trilho que ficava atrás da
minha casa. Então, nos meus sonhos, eu imaginava um vagão vermelho voador, que
serviria de casa para alguém morar no alto de um sobrado.
Um certo dia o carro do meu padrinho estava passando pela
Rua Doutor Faivre, quando de repente, avistei um vagão de trem, no alto de um
tipo de sobrado, que parecia servir de casa e gritei:
- O trem voador dos meus sonhos virou um vagão que serve de
casa!
Deste jeito meu padrinho
explicou:
- Isto não é um vagão de trem, e, sim a residência Belotti
projetada pelo modernista Lolô Cornelsen.
Após isto, pensei:
- Um dia, entrarei nesta casa.
O tempo passou até que em 2014, soube que a Casa Belotti
seria reinaugurada com o nome de Espaço Carmesin, um lugar de Arte e Cultura.
Em setembro do mesmo ano, fui convidada pelo novo proprietário Hugo Umberto para
um sarau de escritores, onde apresentei coreografias de dança e falei sobre meu
livro Lendas Curitibanas. Ao entrar nesta casa fiquei emocionada porque sonhava
em visitar este local desde os meus cinco anos.
Neste dia 29 de novembro de 2014, fiquei chocada ao saber
que o Espaço Carmesim foi pichado por vândalos, que tem como alvos principais
os patrimônios culturais da nossa cidade. Por coincidência soube, também, que
alguns vagões antigos que estavam ao lado da rodoviária nova foram pichados sem
dó e nenhuma piedade.
Minha esperança é que os pichadores podem até sujar a
História do nosso território. Porém jamais riscarão a Cultura, pois sempre
existirão sábios de almas limpas dispostos a tirar a sujeira da falta de
caráter que insiste em tapar a consciência de algumas criaturas perdidas.
Enquanto isto, procuro não sair dos trilhos seguindo a vida
no vagão elevado, do trem da Poesia, mostrando para as pessoas que escrever num
papel é bem mais proveitoso do que pichar o patrimônio alheio.
Luciana do Rocio Mallon
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