Minha
Resposta ao Anúncio: Precisa-se de Funcionária Estilo Verão
Em meados
dos anos 2000 uma propaganda de cerveja, machista como sempre, fez sucesso ao
colocar modelos representando funcionárias de um bar, numa praia, com o nome de
Vera. Quando uma moça destas passava, com a bebida na mão, os homens
exclamavam:
- Vai,
Verão!
- Vem, Verão!
- Não deixe
o Verão acabar!
Naquela
época, eu estava procurando emprego e fiquei assustada ao ver o seguinte cartaz
numa lanchonete:
- Precisa-se
de garçonete, com experiência, estilo Verão.
Naquele
mesmo instante fiquei indignada, então mandei uma carta ao proprietário do
estabelecimento:
- Prezado
Dono de Bar:
Estranhei o
seu cartaz exigindo uma funcionária estilo Verão. Tenho consciência de que o
senhor sabe que o anúncio é machista e insinua a exploração da mulher. Então
apelarei para a linguagem poética, pois percebi que o senhor precisa conhecer a
sensibilidade. Afinal se conhecesse a verdadeira Poesia e sua essência não
colocaria um cartaz daqueles.
Talvez o
senhor precise de uma funcionária bonita porque não confia nos seus produtos.
Afinal se eles fossem, realmente, de qualidade, as pessoas apreciariam o seu
bar de qualquer maneira sem apelação. Com certeza, o senhor precisa mudar o
funcionário da cozinha, ou quem sabe, se aprimorar mais neste setor.
Uma mulher
quando procura um serviço de garçonete é porque, realmente, precisa. Ela não é
um produto, pois é um ser humano a ser respeitado.
Geralmente,
a vida da mulher trabalhadora não é um eterno verão, e sim, um inverno infinito,
onde ela precisa proteger a família contra a neve de egoísmo alheio e a geada do
preconceito. Ás vezes a batalha desta moça esforçada transforma-se num outono
onde as folhas secas da injustiça caem ao seu redor. Porém, mesmo assim, ela
não desiste de lutar. Pois esta moça sempre sonha com a primavera, mesmo que
esta estação demore a chegar. Mas a trabalhadora colhe as oportunidades pelo
seu caminho que viram flores para perfumar o seu lar. As mulheres esforçadas
trabalham no Verão, para guardar as economias para o inverno. Por isto, não
merecerem ser tratadas como objetos.
Portanto,
dono de bar, lembre-se que um dia, com certeza, a sua mãe deve ter trabalhado
muito para criar o senhor. Pois ela enfrentou o inverno, a primavera, o outono
e verão com todo o respeito.
Lembre-se
que mulher não é um produto a ser vendido junto com a cerveja. Pois mulher é a
Poesia mais sublime em que o senhor deve se inspirar, em todas as estações do
ano, para não perder o trem da estação da dignidade.
Luciana do
Rocio Mallon
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